São tantas suas histórias que não se sabe por onde começar a dizer. E para ajudar um bom tanto, a luz da sala é tão fraca que te deixa com uma aparência frágil, como se por passar por tanto te deixasse apenas mais inocente e cândido.
Teus cabelos ainda são macios como minha memória triste há de lembrar. Parece mesmo que alguém andou cuidando de você, apesar das tuas insistentes desistências, das coisas que te deixaram cada vez mais frio. Mas teu abraço ainda é quente, tuas mãos capazes de esquentar as minhas e, apesar dos seus acessos de tosse, consigo ouvir claro e tranquilamente tua voz suave como sempre a cantarolar as velhas músicas que nos faziam dançar no jardim. Chamavam-nos de loucos. E o que nos diziam é o que é.
E o que mais me encanta é te ver torcendo o nariz e fazendo manha, depois de tanto tempo. Me fazes rir como ninguém conseguiu um dia. Como num relicário guardaste teu mais belo sorriso a mim, que mesmo depois de guardado na gaveta, consigo ver abrir como um dia de sol sem nuvem nenhuma para atrapalhar.
E nunca mais eu vou te deixar tão só.