quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Encanto.

São tantas suas histórias que não se sabe por onde começar a dizer. E para ajudar um bom tanto, a luz da sala é tão fraca que te deixa com uma aparência frágil, como se por passar por tanto te deixasse apenas mais inocente e cândido.
Teus cabelos ainda são macios como minha memória triste há de lembrar. Parece mesmo que alguém andou cuidando de você, apesar das tuas insistentes desistências, das coisas que te deixaram cada vez mais frio. Mas teu abraço ainda é quente, tuas mãos capazes de esquentar as minhas e, apesar dos seus acessos de tosse, consigo ouvir claro e tranquilamente tua voz suave como sempre a cantarolar as velhas músicas que nos faziam dançar no jardim. Chamavam-nos de loucos. E o que nos diziam é o que é.
E o que mais me encanta é te ver torcendo o nariz e fazendo manha, depois de tanto tempo. Me fazes rir como ninguém conseguiu um dia. Como num relicário guardaste teu mais belo sorriso a mim, que mesmo depois de guardado na gaveta, consigo ver abrir como um dia de sol sem nuvem nenhuma para atrapalhar.

E nunca mais eu vou te deixar tão só.

sábado, 16 de outubro de 2010

Always Like This.

Noite. Olhos, bocas, mãos, corpos, copos, cheiros, dentes, unhas, gritos.
Beijos, toques, calores, respirações, sorrisos.
Uma vontade só.

Dia.

Olhos, bocas, mãos, sorrisos, abraços, ovos-no-café-da-manhã.
Carinhos, cafunés, abraços, abraços, abraços.
A mesma vontade de antes.

Olhos.  
Abraços.
Sorrisos amarelos.
...
Uma outra vontade.
Um adeus.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Make a wish.

Como uma coreografia, tenho ensaiadas todas as possibilidades de um encontro inesperado. Tenho todas as respostas para qualquer frase, tenho todos os meus sorrisos bobos prontos. Tenho planejado tudo, nos mínimos detalhes, para que você diga um estrondoso não!, que me faça desistir de tudo mais uma vez.
Mas pela primeira vez eu não sinto medo de ir em frente, pela primeira vez eu realmente quero fazer alguém sorrir por simplesmente estar em minha companhia e eu juro que serei o mais doce possível, dessa vez não de forma planejada, posto que ao seu lado eu me torno realmente mais doce.
Eu não me importo com a sua loucura. Eu só me importaria com a sua indiferença.


Oh my heart can’t carry much more
It’s really, really aching and soar
My heart don’t care anymore
I really can’t bear more
My hands don’t work like before
I shiver and I scrape at your door
My heart can’t carry much more.

Couldn’t Care Less - The Cardigans.

domingo, 3 de outubro de 2010

D is for Dangerous.

Há algo que incendeia, implora, grita. Contrasta com a ternura da chuva morna que me toca enquanto estou aqui, deitada sobre a grama. Eu seria capaz de qualquer coisa para compensar a minha insanidade e fazer com que a minha maldita auto-piedade fosse embora. Eu quero te proteger do perigo, qualquer que for.
E agora seus dedos estão entrelaçados aos meus e você toma vinho tinto na minha taça suja de batom; me pego pensando sobre quem deveria proteger quem e sobre os nossos abraços inesperados na cozinha, sobre os meus gritos sem sentido e os seus suspiros profundos de reprovação. Estamos numa enrascada sem solução, não estamos?
Esqueça as consequências, deixe seus sapatos ao lado dos meus e suas chaves na minha penteadeira, e não esqueça de avisar que só voltará pra casa na semana que vem.