quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cocaine.

Paredes com pôsteres de bandas estranhas, vinis arranhados por um acesso de fúria, All Stars rabiscados na sapateira aberta, seringas espalhadas pelo chão. Lençois sujos, um espartilho vermelho sangue jogado no sofá ao lado de uma camisa de um homem qualquer, perfumada de cigarro. Um Calvin and Hobbes que arrancava com dificuldade alguns sorrisos estava já sem capa deixado no criado mudo, ao lado de uma taça suja de batom. Bowie ressoando e sendo cantarolado por lábios sem dono, serventes do pecado; cabelos pretos curtos, mãos gélidas, braços magros e pálidos, já sem veias aparentes. Pontas dos dedos queimadas, unhas vermelhas até a metade.
Jogou o cinzeiro no lustre, gritou, uma mistura de êxtase e dor profunda, quis adormecer na escuridão.
Escorregou pela parede com um gosto amargo na boca e os olhos ardentes, com sua vida acabando ao só sentir entre os dedos o filtro de seu Lucky Strike e nada mais para queimar, vomitando com dificuldade confissões profanas sobre sua vida vazia.

5 comentários:

  1. A dama da noite, Caio Fernando. Foi essa a intertextualidade que me surgiu.

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  2. Fabuloso. Lembrou-me Caio F. Abreu, de certa forma.

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  3. ''Jogou o cinzeiro no lustre, gritou, uma mistura de êxtase e dor profunda, quis adormecer na escuridão.''

    Esse desespero do vazio de uma vida, foi penetrado em mim por cada palavra posta tua!

    querida Evelyn, incrivel a forma como fazes as palavras ecoar dentro de mim!

    Beijos.

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  4. umm das maneiras mais requintadas de se descrever o vazio do peito, tão cheio de vida e lavado de detalhes, nos levando direitinho a cena; incrivelmente belo, apesar de tudo. (:

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