sábado, 4 de dezembro de 2010

Ah.

Enquanto você adora os domingos em que tudo se resume ao ópio, estou aqui nessa sala cheia de janelas abertas, mas com as portas trancadas. Parece-me uma prisão, o ar fica estático e é dolorosa cada tragada. Não há vento embora as árvores balancem afoitas lá fora; consigo ouvir o canto dos pássaros e até mesmo o som das folhas caindo no lago raso, formando circunferências - parecem-me teus olhos.
Aqueles olhos simpáticos que não tive, mas me prendiam cheios de intenção mesmo estando tão distantes. Distantes em todos os sentidos da palavra. Aqueles olhos que sabiam exatamente o que sentiam os meus.
Mas já não bastasse tal distância, há todas aquelas tolas coisas em comum; mas fisicamente o que pertence a mim e a ti é justamente esse ar áspero que te toca até o último de seus cachos, e a mim me reprime; esse ar que te preenche e faz bombear esse monte de carne podre que chamamos de coração. Que deveria ser um só, mas são dois, e dois amargurados.
E existem as canções os filmes os livros as histórias os gostos os desenhos as vontades os planos e a incerteza exasperada e progressiva da qual o findar depende de ti só de ti porque sabias do fundo da tua alma sedenta que eu sou tua embora eu ache dizer isso precipitado visto que tu ia retardando retardando retardando o acaso todo planejado dentro de mim do fundo do abismo daqueles mesmos meus - nossos - olhos.

Mas ah, caberá o que há de vir, e tanta espera, experiência e inexatidão me causam o mesmo efeito que a ti, enquanto você adora os domingos em que tudo se resume ao ópio e estou aqui nessa sala cheia de janelas abertas e portas trancadas.

10 comentários:

  1. Lindinha, amei o texto inteiro, mas adorei especialmente o último parágrafo, hihi
    Tá cada vez melhor! <3

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  2. o influência de c.f. abreu é palpável (: adorei, em todos os sentidos; quando se acaba o amor aqui, é bom ver ele florescendo ao redor.

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  3. Explode tudo. Não da pra retardar e reprimir e esquecer e só lembrar dos velhos olhos, tem que sentir tudo até explodir tudo.

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  4. ''Eu vivo a vida na ilusão
    Entre o chão e os ares
    Vou sonhando em outros ares, vou
    Fingindo ser o que eu já sou
    Fingindo ser o que eu já sou
    Mesmo sem me libertar eu vou''

    Liberdade - Marcelo Camelo

    Sim, li teu texto, me foi uma brisa suave, tão fria e me beijou o rosto, escutavas a música acima citada e incrivelmente ela me parece com tuas palavras.
    Se as árvores se movimentam, mesmo que vento nenhum exista para soltar-lhes as folhas, mecha-se também, abra as portas da prisão, deixe que os galhos, e as luzes da primavera adentrem.
    Me sinto assim, dessa forma, como descrevestes, e são apenas aqueles olhos nos meus, nos teus.


    Evelyn, minha querida xará, desculpe-me a demora, tenho estado trabalhado tanto, até meio que abandonei meu espaço, mais as férias chegaram e estarei aqui para ler tuas palavras e sentir teu amor e carinho, ou qualquer sentimento bem descrito por ti.

    Te cuidas.

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  5. evy, estou divulgando o novo trabalho de uma querida.
    Visite e siga se puder e desejar, seus textos são maravilhosos, e de inauguração tem um muito fofinho!

    http://www.casadadonasanta.blogspot.com/

    Beijinhos

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  6. Quando tempo que não venho por aqui gente.. rs
    Que saudade desse cantinho!

    enfim, você escreve como uma alma livre, experiencias vamos adquirindo sempre a cada passo que damos.

    bjs querida!

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  7. Domingos são dias de nostalgia, onde lembranças boas - porém dolorosas - invadem nossos pensamentos e não mais partem.

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  8. Oi, chamo-me Otávio, adorei seu texto, muito bom mesmo. Venho Também divulgar meu blog 'Surfista de Banzeiro' como amostra dele eu queria lhe mostrar esse poema que fiz rescentemente http://otaviomsilva.blogspot.com/2010/12/oi.html . Forte Abraço, Até.

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  9. Evelyn, você continua com esses textos brilhantes... Ah, como eu gosto de lê-los!
    Continue com suas portas fechadas, um dia elas se abrirão e você também aproveitará um sol de domingo num parque.
    Bjs

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