Lá no fundo há uma alma que chora. Soluça, quebra espelhos, desarruma tua cama de solteiro tão perfeitamente alinhada.
Olho profundamente para ti.
Tu olhas descompassado aos meus sapatos boneca.
Continuo a te destruir por dentro, tentando manter meus olhos cândidos e fixos; te culpando por tudo, pela minha blusa suja de vinho, pela sua calma sem fim, pelo decoro que ao meu modo quebrei e até pelo ranger das escadas.
Tu sorriste aquele sorriso sádico e ao mesmo tempo de um bom moço inglês, com direito ao teu paletó mais bonito, tua barba bem feita. E falas, falas coisas triviais - o tempo, as pessoas, a tua filosofia declarada e tão bem ensaiada.
Enquanto tu estralas os dedos,
- Eu mato um a um daquela multidão que o assiste na sala -
e arrumas as partituras,
- Eu tento arrancar tua gravata, sujar teu colarinho de carmim -
ajeita-se delicadamente no banco, dedilhas uma bachiana qualquer,
- Eu por fora inerte, ordeno os pensamentos e recomponho-me indo embora, deixando sorriso, piano, vinho e paletó, com o salto boneca nas mãos chamando a primeira charrete que encontro, apesar dos olhares tortos à uma estranha desacompanhada na noite de lua cheia; o rosto ainda sereno, a calmaria digna-de-salvar-almas, o carmim dos lábios ainda intacto, tais que só se movem para dizer por favor, me leve para casa.
Uma beleza triste, diferente de seu sorriso.
ResponderExcluirGrudenta.
delicado, melancólico. e lindo lindo lindo.
ResponderExcluirMuito bom eve =3. Muito bom mesmo =3.
ResponderExcluirMinha xará tão querida.
ResponderExcluirSenti os movimentos leves e compassados de uma valsa em cada palavra, a estória foi andando com passos lentos e me levando junto.
Maravilhosa!
Obrigada sempre sempre por teu carinho por mim e por meu blog!
Enquanto lia e escutava uma música, um filme passou pela minha cabeça com essas suas palavras. Belo, muito belo!
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