quarta-feira, 25 de abril de 2012

Morno.

Refleti sobre o morno. O morno é aconchegante. O morno não dói. Quando é inverno, você liga a torneira no morno e pode sentir, então, suas mãos vivas, e é bom. E por que ninguém quer vivê-lo? Eu vivo intensamente, não quero cair na rotina. Carpe diem, aos arcádicos. Pois viver bucolicamente é algo assim tão intenso?
O morno não é medíocre; ele é seguro. Viver assim é, portanto, não se ferir nem congelar. Ele admite mudanças, não é estático; admite grandes devaneios, porém, de quem julga ser fervente - e de quem é frio e não sabe. Digo com propriedade: devaneio e aumento o que sinto, por pensar no que deveria sentir. O morno é confusão também, então.
Por não se admitir ser meio termo.
Por se querer ser quem não é - não de forma evolutiva, mas a criar sensações que suas terminações nervosas não suportam.


Tentei ferver.
Fervi, fervi e deixei subir no ar sorrisos, aqueles de criança humilde com brinquedo novo - ei, eu também posso! - e, ao apagarem o fogo, fechando a saída de gás, metade de mim evaporou. O fogo não era eu. Eu era consequência dele. Gostei da sensação de ardência, mas não era inerente a mim. Eu, eu mesma, sou morna. E poderei me aquecer, claro, mas somente quando o fogo for eu.