sexta-feira, 24 de setembro de 2010

This is for you.

Como sempre, ia pra casa. Nada chamou sua atenção, a não ser pela angústia que a corroía, a ansiedade que percorria suas veias e seus passos à combinar com seus flashes rápidos de nostalgia eufórica. Aquele gosto doce lhe trazia mais lembranças. Contrastavam com o amargo de não entender o que havia para não conseguir sequer colocar a chave na fechadura da porta, fazê-la abrir.
A porta abrir, seu coração abrir.
E então, por sabe lá o que, ela se abriu. E a janela aberta soprava forte e seu voil dançava delicado, renovando o ar com um perfume absurdo. Esse vento levava embora lentamente a poeira áspera que pousara, com cuidado, sobre as manchetes antigas, sobre o porta-retrato com uma foto sem vida desprovida de lembranças, sobre as rosas champagne, já murchas, deixadas sobre a mesa com um cartão de despedida. E bagunçou-se tudo, as camisas penduradas com cuidado foram ao chão e as páginas marcadas do livro se misturaram.
E mesmo que tudo se arrumasse já mais nada assim seria. Fora-se a poeira que a aflingia e a aprisionava, por um vento que agora tem nome. Ela daria novas chances para novas rosas champagne.

Sem despedidas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Infortúnio.

Como se tudo tivesse gosto de café feito com água fervida. Insosso.
Como se tudo fosse um turbilhão estrondoso, mas estivesse do lado de fora do trem. E eu, pela janela, só toco o vidro. Esse vidro cheio de marcas de dedos de todas as outras pessoas que já tentaram alcançar algo como você e só chegaram na tua máscara.
Onde estou? No túnel escuro, onde não vejo o turbilhão do lado de fora. Agora tudo é besteira e me afundo na falta de luz sem nem sequer querer pensar no que seria o tal turbilhão magnífico do lado de fora; me equilibrando com a minha xícara de café insosso, observando o olhar tedioso dos outros acostumados à escuridão e as crianças apavoradas querendo mais que depressa sair dela e enxergar o brilho do sol. Como diria o livro, estou querendo chegar à ponta dos pelos do coelho, querendo descobrir, sentir, saber quem é esse turbilhão. Mas ainda não cheguei lá. Estou na minha zona de conforto.
Pra mim basta saber que o turbilhão existe. Por enquanto.

domingo, 19 de setembro de 2010

O sabor de fel é de cortar.

Querer.
1 - Ter vontade ou intenção de.
2 - Amar-se.
3 - Desejo.
4 - Ansiedade, súplica.

Querer é uma palavra tão complexa. Dizer "te quero" ou sentir o querer é demasiado para mim. Vontade de quê? Intenção de quê?

Eu sei, é um doce te amar. O amargo é querer-te pra mim.
Amar-se. Desejar. Ansiar, suplicar.

Amar.
1- Gostar muito de.
2- Estar apaixonado.

-
Por que querer significa tão mais que amar, simplesmente? Por que querer é um grito ansioso?, por que amar é tão puro e simples?
Por que me faltam as palavras? Sempre soube o que dizer. Já não sei mais.
Eu só quero que você me queira, não leve a mal, mas talvez o acaso entregou alguém pra me dizer o que qualquer dirá.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cocaine.

Paredes com pôsteres de bandas estranhas, vinis arranhados por um acesso de fúria, All Stars rabiscados na sapateira aberta, seringas espalhadas pelo chão. Lençois sujos, um espartilho vermelho sangue jogado no sofá ao lado de uma camisa de um homem qualquer, perfumada de cigarro. Um Calvin and Hobbes que arrancava com dificuldade alguns sorrisos estava já sem capa deixado no criado mudo, ao lado de uma taça suja de batom. Bowie ressoando e sendo cantarolado por lábios sem dono, serventes do pecado; cabelos pretos curtos, mãos gélidas, braços magros e pálidos, já sem veias aparentes. Pontas dos dedos queimadas, unhas vermelhas até a metade.
Jogou o cinzeiro no lustre, gritou, uma mistura de êxtase e dor profunda, quis adormecer na escuridão.
Escorregou pela parede com um gosto amargo na boca e os olhos ardentes, com sua vida acabando ao só sentir entre os dedos o filtro de seu Lucky Strike e nada mais para queimar, vomitando com dificuldade confissões profanas sobre sua vida vazia.

domingo, 5 de setembro de 2010

Find someone, need someone.

Me perguntaram se eu consigo ser feliz sozinha.
Subitamente respondi. Não, eu não consigo. E admiro quem pode.
Basicamente é não conseguir fazer as coisas por mim. É fazer para que alguém veja, para que alguém goste, para que alguém aprove; tenho a clara impressão de sempre fazer algo errado quando faço porque quero, por mim. É como uma máscara da pessoa perfeita - mas acho que todos sabem que mesmo assim estou longe da perfeição. Então me pergunto se eu naturalmente não seria uma pessoa melhor.
Basicamente é precisar de atenção. Carência psicológica. É saber que alguém mesmo que lá longe é capaz de dizer uma palavra amiga e ter a certeza de que pode receber uma em troca. Eu sou do tipo que precisa de abraços diários.
Basicamente... É levar tudo ao pé da letra, é precisar de alguém filosofe comigo nos meus surtos de entender a razão das coisas e de alguém que ria comigo de manhã.

Eu tenho a mania, melhor dizendo, o aptidão, de me moldar com quem me relaciono. Não sei se é bom ou ruim, mas tenho vários perfis que sustento, nada fugindo do normal. Mas algumas pessoas me fazem bem e acho que consigo chegar próximo de quem seria eu. E são elas que eu quero manter por perto daqui pra frente.

Para Giovana, minha japonesa mais querida,
Para Caroline que tem os melhores abraços pela manhã,
Para Maressa e Hanna, que mesmo longe estão comigo sempre,
E para Daniel, meu nerd favorito e melhor amigo.