segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Crush on me.

Lá no fundo há uma alma que chora. Soluça, quebra espelhos, desarruma tua cama de solteiro tão perfeitamente alinhada.

             Olho profundamente para ti.
             Tu olhas descompassado aos meus sapatos boneca.

Continuo a te destruir por dentro, tentando manter meus olhos cândidos e fixos; te culpando por tudo, pela minha blusa suja de vinho, pela sua calma sem fim, pelo decoro que ao meu modo quebrei e até pelo ranger das escadas.

Tu sorriste aquele sorriso sádico e ao mesmo tempo de um bom moço inglês, com direito ao teu paletó mais bonito, tua barba bem feita. E falas, falas coisas triviais - o tempo, as pessoas, a tua filosofia declarada e tão bem ensaiada.

Enquanto tu estralas os dedos,
             - Eu mato um a um daquela multidão que o assiste na sala -
e arrumas as partituras,
             - Eu tento arrancar tua gravata, sujar teu colarinho de carmim -
ajeita-se delicadamente no banco, dedilhas uma bachiana qualquer,
          - Eu por fora inerte, ordeno os pensamentos e recomponho-me indo embora, deixando sorriso, piano, vinho e paletó, com o salto boneca nas mãos chamando a primeira charrete que   encontro, apesar dos olhares tortos à uma estranha desacompanhada na noite de lua cheia; o rosto ainda sereno, a calmaria digna-de-salvar-almas, o carmim dos lábios ainda intacto, tais que só se movem para dizer por favor, me leve para casa.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sobra tanta falta de paciência que me desespero,

Sobram tantas meias verdades que guardo pra mim mesmo,
[...]
Sei lá se o que me deu foi dado ou se é seu.

Falta-me a falta de ar.
Pensar nos círculos concêntricos castanhos
- tão castanhos -
que me fizeram afogar,
que por ventura ou desvario
me disseram ser água turva
e assim tão lindamente castanhos
cansaram de abrigar discrepâncias.

Sobraram as placas de aviso.
A highway é irreprimível, inconsequente,
a estrada é solitária
e não se enxerga o fim da linha.

Mas eu quero enxergar,
- disse-lhe -
eu vou a pé,
ou de joelhos, se assim preferes,
pois eu sei que se cansar-me há de ter mesmo a água turva a mim.

E tinha?

Já dei largos passos sorrindo,
lembrando-me dos tais círculos;
Já fiz o cosmos refestelar-se de balões;
Senti a chuva tornar o ar pesado
enquanto corria, em desespero,
rumo ao que seria o fim da imponente highway.

Não me é claro se era o fim
ou se era um imenso despenhadeiro
ao qual não querias que me atirasse
pois nem tu conseguirias me resgatar,

então eu sentei ao meio fio,
numa curva em que não há placas.
Esperando estou.
E eu tenho sede.