terça-feira, 9 de abril de 2013

Delicata

Eu preciso de algo mais preciso.
O que eu tenho agora é esse eterno descobrir você.
Descobrir de você.
Descobrirmos-nos, sim.
Um descobrir não descumprido.
Esse eterno descobrir você.
Você, que me lê; e você, que está dentro de mim - vulgo eu.
Vulgo eu, vulgo você
as incertezas da existência de mentes além da nossa.
E assim, nada vulgar,
apenas... sereno:
Serena serenata entre amantes ainda desconhecidos.

domingo, 31 de março de 2013

Solitária

A grande verdade é que você morrerá sozinho. Aceite.

Você que só sabe amar a si próprio e vive nessa ilusão de que tudo gira ao seu redor.
Que tenta convencer os outros de que gosta de algo além de si. Uma garota. Uma ideologia. Uma poesia.
Que tenta se convencer de que sente saudades. De que se importa. De que não se importa.
Que tenta crer que essa bebida vai esquentar teu coração. Não vai. Você é uma mentira.

A grande verdade é que você morrerá sozinho.

Você sabe que todos vão embora. Só não sabe o que se passa dentro de ti.

A grande verdade é que você morrerá sozinho. Todos vamos.
A diferença é que você estará enclausurado numa solitária que você mesmo construiu.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Intrínseca

Porque amor quente que nem o meu você nunca teve nessa vida.


Essencial.
Existencial.
Eu, intrínseca.

Algo que nem seu orgulho latente e sua falta de tato podem perceber.

Imanente.
Inerente.
Eu, volúpia.

Agora,
por mais que eu esteja indo embora,
meu eu em você nunca morre.
Tarde demais.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Doppelgänger

Do alemão doppel - duplicata - e gänger - andante. 


O vi sair da padaria. Um pacote de pão e um maço de cigarros. Sacudiu o isqueiro esperando pela última faísca e acendeu um deles. Parecia Caio F., e por isso soou-me tão familiar.
Tragou rápido, 1, 2, 3 vezes. Soltou no ar aquela fumaça cinza - estranha de sequer ser cogitada proveniente de seus pulmões. Seus movimentos eram rápidos. Acompanhei tudo enquanto estava parada no sinaleiro.

Não sei o porquê da aflição e nervosismo. Não sei nem o motivo e quando começou a fumar.
Eu não gosto de cigarros, não tenho movimentos tão rápidos, mas acho que entendo como ele se sente.

[...]

terça-feira, 12 de março de 2013

Dama de ferro

Reprimida, dizia-se livre
Insensata, dizia-se soberana
Triste, dizia-se dona do mundo
Delicadamente embriagada, dizia-se insensível

Mal sabe que embriagava-se de amor
(e de todas as doces confusões que vêm de brinde).

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Melancólica


Paciência, meu amor, é infinita
Paciência, meu amor é infinito
Cada gota
Cada folha
Cada nota
Tem um pouco da minha saudade.

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos, e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Dramática

Hoje tentei exercitar a paciência e meu autoconhecimento: escrevi com papel e caneta. Esta é a terceira linha - no papel - e já há anotações fora de ordem. Concluo, ou apenas presumo, a mutabilidade dos meus pensamentos. O fluxo foge à velocidade pequena com que a tinta percorre o papel, desenhando e dando forma a várias palavras vazias. Insuficientes. Aí está minha falta de laconicidade: na inexpressividade das frases que componho.
Grande tolice pensar que escrevo algo bom.

Mais rabiscos.

[...]

O maior barulho da cidade sou eu. Se a cidade já está doente, o que então se passa cá dentro?

[...]

Uma (ir)realidade visível, tocável, sensível e imperfeita mesmo para os meus padrões de autora. Ou um sonho que acordado é muito mais do que dormindo.