terça-feira, 17 de maio de 2011

Trem.

"Te falei de todos os detalhes, do meu ciúmes, da minha paixão, minhas viagens pelos sete mares, começo de um namoro no portão. Te falei dos beijos no cinema, foi só por isso que eu corri demais. [...]"

Inconstante; sim, mas intenso. Inconstante por circunstâncias que você com sua filosofia de vida barata consegue explicar muito bem. Intenso, ora, justamente por ser como é.
Eu realmente não sei definir com outras palavras além destas. Deve ser porque não há razão para definir o que não é concreto, e aqui defino abstrato algo que não é certo, algo que não é feito por um acordo. Algo que simplesmente é, e pela razão de assim ser, torna-se certo. Lendo assim torna-se confuso, mas pra quem vive e se acostuma, a confusão se torna confortável. Ficar nessa zona de conforto pode me trazer um preço caro, mas amigo, eu tentei sair dela por várias vezes, por muito tempo; e sobre você digo o mesmo, apesar de você ter muito mais possibilidade de sair desse comodismo, o que não vem ao caso por enquanto - como eu já disse, a sua filosofia explica totalmente e embora eu não concorde com ela, há certa coerência.
Ocorre que chegamos em um ponto monótono, onde não há escapatória: ou deixa-se estar, um amor perdido, correspondido e ao mesmo tempo platônico; ou um amor que precisa dar certo, obrigatoriamente, por uma convenção que fizemos sem ao menos perceber. E é de tal convenção que surgiu o amor: sem nem sequer um tratado há um acordo de entrelinhas, que por sinal eu cumpro muito bem. E espontaneamente. Só não aceito julgamentos.
A resposta não é dada por mim nem por ninguém.
Há necessidade de resposta?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O livro azul de letras douradas.

                Chegou atrasado à estação. O relógio marcava seis e meia; os poucos raios de sol laranja poente combinavam com o vermelho do guarda-chuva que vinha em sua direção.
                - Você está atrasado, veja, as luzes já se acenderam, mas ah, assim fica muito mais bonito. Você trouxe pra mim aquele livro de capa azul? Sempre lembro de você quando vejo ele na vitrine, cheio de letras douradas.
                Ele sorriu, a fez desviar das poças da calçada. Chegaram à escadaria da casa dela, ele entregou o livro, deu-lhe um beijo na testa e foi embora, como de costume. Estava visivelmente incomodado, mas ela ficava tão feliz em sua companhia que, eufórica, não perguntou o porquê.
                Ela abriu o livro, tinha seu nome escrito com aquela letra desordenada dele, como uma súplica, uma súplica entre aquelas seis letras.
_____

Na noite seguinte a moça do nome de seis letras foi de novo ao lado da lâmpada, e ela se acendeu. Sentou-se ao lado dela, e entre as pernas da multidão que corria apressada ela o viu entregando outros livros azuis.
O final da história ainda não foi dito.