domingo, 30 de dezembro de 2012

Engodo.

"Do teu dia, quase não sei, mas sei do teu labirinto em ti [...], do meu labirinto em ti. E também não entendo."

Sinto saudades infinitas de teus labirintos e de teus olhos semafóricos. As saudades me engolem, mastigam, tornam a engolir. Os labirintos me confundem, me extasiam, tornam a confundir. E sentir a ambos dói como apunhalar qualquer resquício de amor e ódio dentro de mim.

[...]

Talvez seja disso feito o amor, ao menos o teu: um imenso percurso de labirinto no qual me confundo, amando a todas as paredes tortuosas nas quais me perco, amando o chão raso que ainda me resta, amando o fato de não entender mais nada, mas ainda assim amar.
Amar aquele amor de querer só para mim o hálito fresco, o abraço morno, o cheiro macio da tua nuca contra o meu rosto em uma tentativa vã de me esconder em você, te roubar para mim para assistirmos juntos todos os seriados filmes trailers e a nossa vida por um espelho sem moldura.

[...]

A chuva fria de verão lá fora. Nós dois escondidos entre cobertores e a pele um do outro. E meu constante medo dos pontos finais; seu constante não-entender de meu medo: todas as confusões se resolvendo no toque de nossas mãos e em uma xícara quente de qualquer coisa - não me importa o que; qualquer coisa que tenha o seu gosto e que me acalme.

Talvez se o amor fosse feito uma caixinha de música, estaríamos bem. Você um dia a recebe em uma caixa com um enorme laço, repleta de papéis coloridos protegendo o presente. E em cima dela uma bailarina delicada, que ganha vida quando, de surpresa, alguém gira o botão para que a música se inicie. Então as notas se confundem, a bailarina perde o compasso, e as pilhas do amor se esvaem - e a caixinha volta ao embrulho, acumula pó, até você esquecer do porquê ela cessou as notas. E num súbito saudosismo recorda-se do presente, e busca tirar o pó, limpar o amarelado da bailarina, até seus olhos brilharem com o tilintar das notas numa arritmia esplêndida e momentânea.
Estaríamos bem.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Prolixo.

Depois: me sinto absolutamente ridícula. Despida. Vítima de qualquer cruel episódio de massacre violento atentando ao pudor.
(Continue, no ritmo... Os lábios e o batom.)
Há um muro de concreto entre nossos lábios.
E entre qualquer outra ação que minha meninice não permita. Sou fogo, desde então.

Durante: senti-me na chuva.
Repleta e absurdamente eufórica.
Completa e ridiculamente feliz.
Eu deixaria sem receios o asfalto para seguir pela estradinha secundária e empoeirada rumo aos teus pensamentos mais profanos. Ou isto é o que diz ser: não é.
És mais doce que o mais inocente dos corações - por favor, admita-se lindo tal como és. E insensato.  Obscuro. Nem um pouco lacônico; assim, és.
Tiveste medo apenas porque descobri. Descobri-te deste véu a que chamar de passado. Descobri-te. Deixaste-se levar. Por pouco.

Antes: como um anjo negro que me perseguia, permiti que meus olhos encontrassem os teus.
E assim, um estrondo! Algo que teu gélido - embora doce - modo não pode compreender. Sinto que teus impulsos rejeitariam qualquer forma sincera de amor.

Tentei. Tentamos, melhor assim.

sábado, 24 de novembro de 2012

Viés


"Ele me tocava. Tudo tocava com seus dedos claros. As suas pupilas dentro das minhas. Um lago parado de águas apodrecidas e talvez mas apenas e antigamente guirlandas sobre o poço refletido num lago simplesmente limpo. Ou não. Baixei os olhos: tudo que em mim se anunciava rude nele se mostrava doce. [...] eu não sabia o que viria depois. Se lhe pedir amor - porque o daria; se lhe pedir um toque - porque o faria. Não lhe pediria nada. Senti que o ritmo se acelerava pressagiando o depois em breve. Não decidi porque já não decido meus rumos: minha única preocupação é manter a fronte ereta e o porte altivo exatamente como se cantasse um hino."


Como se fosse uma
terna
eterna
interna
alterna psicose.


Como se pela primeira vez eu tivesse em mãos, em minhas mãos, uma folha em branco, inteira, inteira para eu escrever o que eu quisesse. Como se eu não pudesse dizer nada do que eu realmente posso escrever.
Eu não pude sequer dizer do quanto gosto da metáfora dos círculos concêntricos sobre o poço. E talvez, também pela primeira vez, é como se eu fosse o poço, largo, raso, profundo, absorto, e, ainda de forma inédita, inconsequente.
Os círculos são como os olhos, que eu não sei que cor têm, e que olham extasiados para o alto. Procurando a falta de contraste entre o cinza dos prédios e o cinza do céu, dos muros, da sua camiseta, das palavras sem importância dos tantos em volta.

Como se fosse tudo um grande exagero de minha parte... E todo ele estivesse assim, contido, tímido, e tão, tão meu.


"Mas percebi nos seus ombros uma desenvoltura que os meus não tinham. Seus dedos mais longos que os meus e sua boca mais livre que a minha e seus gestos debruçavam-se no ar em direção ao que desejava tocar: eu. Enveredava em direção à minha ferocidade de lobo. Sozinho em meu covil e vindo à tona e talvez pisando cuidadoso outras latitudes além da que me era mostrada. Temia. E o que queria ver: via jamais.
Quem sabe no fundo do lago alguma gruta.
Quem sabe no fundo da gruta alguma planta.
Quem sabe no fundo da planta alguma flor.
Quem sabe no fundo da flor alguma sede.
Quem sabe no fundo da sede algum lago."
Mas apenas e antigamente guirlandas sobre o poço - Caio F.

Quem sabe no fundo algum poço. Quem sabe os círculos concêntricos? Quem sabe a ambiguidade do descobrir-me.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

It's all around you.

Manso, como faz jus. Aquece, acalenta, enche de sons o silêncio do deserto.
Estamos sós e nenhum de nós sabe exatamente onde vai parar.

Apenas venha e me dê um abraço quente.
Venha de surpresa, não importa, eu saio da concha e garanto um lugar aconchegante para você me cuidar.
Me sorria, me respire, me beije e me pulse.
Me ganhe. E não me deixe.

Me arranhe com toda essa grandeza que existe dentro de você.

Porque se o amor não pode me salvar, mas você pode, não há nada a dizer.
Apenas venha. E fique.

Seja a minha incógnita. Me agite e me aquiete. Eu posso afirmar com toda a certeza que, para quem já decifrou todas as minhas entranhas, não será difícil me manter.

Apenas venha, e nós desvaneceremos juntos.



You'll be given love. You'll be taken care of. You'll be given love, you have to trust it.
Maybe not from the sources you have poured yours.
Maybe not from the directions you are staring at.
Twist your head around. It's all around you. All is full of love.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Morno.

Refleti sobre o morno. O morno é aconchegante. O morno não dói. Quando é inverno, você liga a torneira no morno e pode sentir, então, suas mãos vivas, e é bom. E por que ninguém quer vivê-lo? Eu vivo intensamente, não quero cair na rotina. Carpe diem, aos arcádicos. Pois viver bucolicamente é algo assim tão intenso?
O morno não é medíocre; ele é seguro. Viver assim é, portanto, não se ferir nem congelar. Ele admite mudanças, não é estático; admite grandes devaneios, porém, de quem julga ser fervente - e de quem é frio e não sabe. Digo com propriedade: devaneio e aumento o que sinto, por pensar no que deveria sentir. O morno é confusão também, então.
Por não se admitir ser meio termo.
Por se querer ser quem não é - não de forma evolutiva, mas a criar sensações que suas terminações nervosas não suportam.


Tentei ferver.
Fervi, fervi e deixei subir no ar sorrisos, aqueles de criança humilde com brinquedo novo - ei, eu também posso! - e, ao apagarem o fogo, fechando a saída de gás, metade de mim evaporou. O fogo não era eu. Eu era consequência dele. Gostei da sensação de ardência, mas não era inerente a mim. Eu, eu mesma, sou morna. E poderei me aquecer, claro, mas somente quando o fogo for eu.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Introspect.

Para ler ouvindo Wedding/Funeral, do Anchor & Braille.

Há três meses a bonança vem intercalada da tempestade. Porém, talvez eu acostumada com o dilúvio, deixei tudo no lugar. Tudo está exatamente aonde deveria estar, exceto o mais importante.

a.cos.tu.mar
vtd 1 Fazer adquirir um costume, habituar

Acostumar não é conhecer o lugar de onde as gotas da tempestade provém, o seu trajeto, o seu motivo para existir. É vê-las cair, apreciá-las e tirar proveito.
Espalhei milhares de vasilhas pela casa, pela calçada, pelos jardins; apenas por descuido deixei as gotas molharem o travesseiro. Paciência.
Paciência, desculpe, não tenho. Mas recolho todas as vasilhas agora cheias e usarei a água para lavar tudo até parar de sangrar. Eu prometo. Eu prometo que vai passar, meu amor.

Would have been something amazing.
Should have been wild and learned.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Lavando a alma.

A cabeça pesa no travesseiro,
os olhos úmidos fixos na imagem turva do teto.
Numa tentativa desesperada de fugir
calculo a respiração
conto quantas vezes movo as pálpebras
a fim de tirar o excesso da umidade de


água
e
sal


que assim rolam soltas,
desenhando os traços do nariz ao queixo
pingando nos lençóis alvos
e impedindo a respiração fácil


fazendo engolir fundo
fatos que não aconteceram(ão)


Lençóis limpos, alma lavada,
poesia nova ao lembrar das lágrimas
e do olhar de quem me cessa o choro.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

De dezembro a janeiro.

E essa calmaria de todos os dias - de trinta e nove dias, desde então - confronta-se com a minha confusão inerente e já minha, muito minha. Posso dizer até que me acostumei com ela, mas nunca, nunca, que me orgulho dela e muito menos de que ela está certa.
Com o tempo a gente aprende a lidar com situações das quais não se tem domínio, mas que se tornam aceitáveis.

- Eu não gosto de confusão. -

Mas quase todo o tempo o coração bate forte e quente, a cada vez que se lembra, ou que não esquece. A cada cheiro de shampoo no travesseiro, a cada vez que vemos um filme, que eu rio de você, que você diz gostar do livro que te dei. A cada vez que eu deixo a confusão que me entristece passar. A cada vez que o tempo parece passar tão devagar, mas voa rápido lá fora e eu morro de frio enquanto você está de camiseta.
E os dedos se entrelaçam, os braços se confundem num abraço e meus cabelos compridos sempre atrapalham. 

 - Veja bem, eu não sei sobre tudo o que gosto, mas eu gosto de você. -
(Pouquinho, bem pouquinho, um tantinho assim.)

É um ensaio sobre a paciência escrito em trinta dias, oficialmente. Sobre a paciência da espera, da confusão, da falta de tempo e das impossibilidades. Sobre a paciência da sua teimosia e da minha convicção, da sua razão quente e do meu frio, da sua fala e da minha quietude.

Não, não incendeia, não implora e nem grita. Só é calmo. É leve, flutua, e eu posso respirar.